Cidades recicladas: como o design cíclico dá forma à vida urbana

A reciclagem tem sido um ponto de entrada para o design sustentável. É uma atividade pessoal devido à micro escala que permite às pessoas reduzir o desperdício e economizar energia. Mas entre a escassez de recursos, a perda de habitat ambiental e a crise climática global, houve uma mudança nas práticas diárias em direção a um pensamento mais cíclico. Cada vez mais, a necessidade de manter a vida faz parte de um processo contínuo de produção, reabsorção e reciclagem, onde os resíduos são convertidos em insumos para a produção.

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Rely Benches. Imagem © Joe Doucet

O conceito de design cíclico é inspirado em processos auto-gerenciados e regulamentados, considerando o tempo e os ciclos de vida completos. Além do atual modelo de extração de resíduos, essa abordagem visa redefinir o crescimento, dissociando gradualmente a atividade econômica do consumo de recursos finitos e projetando os resíduos fora do sistema. Ele se concentra nos fluxos de resíduos e poluição, mantendo produtos e materiais em uso e sistemas regenerativos naturais.

O design cíclico pode mudar a maneira como a arquitetura é criada. Como ressalta o arquiteto e urbanista Eduardo Souza, "enormes quantidades de recursos, materiais, água e energia são exploradas, processadas ​​e consumidas para a execução de uma obra e são limitadas à vida útil dos edifícios". O design cíclico maximiza o gerenciamento mais eficiente dos recursos e a vida útil do produto, além de minimizar ou encerrar a geração de resíduos. E essas ideias já estão sendo implementadas em uma série de iniciativas urbanas de Lixo Zero em todo o mundo.

Print Your City. Imagem © Stefanos Tsakiris

Para ilustrar como as ideias de reciclagem e design cíclico podem ser levadas à escala urbana, o The New Raw lançou o Zero Waste Lab em Thessaloniki, uma iniciativa de pesquisa em que os cidadãos gregos podem reciclar resíduos plásticos em mobiliários urbanos. Como parte do projeto maior Print Your City, utiliza um braço robótico e a reciclagem para a criação de móveis, pois fecha o ciclo de resíduos de plástico. A iniciativa tem como objetivo usar produtos reciclados para redesenhar os espaços públicos nas cidades.

Kiruna Town Hall. Imagem © Hufton + Crow

Essas ideias definem como as cidades mudam ao longo do tempo. A cidade sueca de Kiruna,150 km ao norte do Círculo Polar Ártico, está no topo da maior mina de minério de ferro do planeta. A mina deu luz à Kiruna e agora está ameaçando varrê-la do mapa. Um século de operações de mineração começou a desestabilizar a terra ao redor da cidade. O solo está se rompendo, se dividindo em fendas profundas que ameaçam engolir a cidade.

Em resposta a essa ameaça, a mineradora Luossavaara-Kiirunavaara (LKAB) propôs uma solução direta: mover Kiruna três quilômetros para o leste. Em certo sentido, e às vezes literalmente, reciclando a própria cidade. A prefeitura de Kiruna, projetada pelo arquiteto sueco Arthur von Schmalensee, recebe uma nova vida no The Crystal. O projeto de Henning Larsen incorpora a icônica torre sineira de 1958, que representa não apenas uma reimaginação visual da identidade de Kiruna, mas uma continuação física da história da cidade.

Kiruna Town Hall. Imagem © Hufton + Crow

O exemplo de Barcelona, ​​caracterizado por seu traçado uniforme, regular e extenso, mostra uma cidade sólida, mista e muito densa, com um espaço público consolidado que precisa ser reprogramado e reciclado para responder a uma realidade social, ambiental e econômica em rápida mudança. O Leku Studio reinventou o programa Superblocks da cidade, uma das transformações urbanas mais ambiciosas da cidade. O conjunto de ferramentas em Sant Antoni é projetado seguindo a modulação estabelecida pela malha de base que é facilmente adicionada e combinada entre si, dando origem a uma abordagem urbana cíclica e adaptável.

Superblock de Sant Antoni. Imagem © Del Rio Bani

A empresa multinacional britânica de infraestrutura Balfour Beatty publicou um documento de inovação de 2050, analisando tendências mais amplas no design cíclico e como elas podem ser aplicadas na construção. O relatório da indústria se tornou uma referência para a evolução dos métodos de construção, descrevendo como "a Internet das coisas fornecerá energia a edifícios inteligentes com materiais novos, geradores de energia ou respiráveis ​​em cidades inteligentes que podem moldar o futuro e adaptar-se instantaneamente às novas circunstâncias, com a impressão 4D, na qual objetos autotransformados respondem a mudanças nos níveis de calor, som ou umidade alterando de formato". Materiais e construção adaptáveis, modelagem urbana responsiva e impressão em 4D são exemplos ligados a tendências cíclicas e cidades integradas.

Expo Gate. Imagem © Filippo Romano

O design cíclico cria e reconstrói a saúde arquitetônica e urbana geral. O conceito reconhece a importância do design que precisa funcionar efetivamente em todas as escalas, para organizações e indivíduos, global e localmente. É uma mudança sistêmica que cria resiliência a longo prazo para fornecer benefícios ambientais e sociais. Esse movimento permite repensar radicalmente a desmaterialização, a transparência e a inteligência baseada em feedbacks do planejamento urbano. À medida que a reciclagem e seus efeitos urbanos são considerados, as cidades futuras se voltarão cada vez mais para o design cíclico, como uma maneira de abordar as questões prementes de nosso tempo.

Este artigo é parte do Tópico do mês do ArcDaily: Reciclagem de materiais. Todo mês, exploramos um tópico através de artigos, entrevistas, notícias e obras. Saiba mais sobre nossos tópicos aqui. E como sempre, no ArchDaily, valorizamos as contribuições de nossos leitores. Se você deseja enviar um artigo ou um trabalho, entre em contato conosco.

Sobre este autor
Cita: Baldwin, Eric. "Cidades recicladas: como o design cíclico dá forma à vida urbana" [Recycled Cities: How Circular Design Shapes Urban Life] 01 Ago 2020. ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/944320/cidades-recicladas-como-o-design-ciclico-da-forma-a-vida-urbana> ISSN 0719-8906

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